terça-feira, 11 de agosto de 2009

Caras pintadas:mistura de política e ousadia


Há 17 anos atrás, a UNE-União Nacional dos Estudantes- e a UBES-União Brasileira dos Estudantes Secundaristas realizavam a primeira grande passeata daquele que ficou conhecido como o movimento dos caras - pintadas.Para mim a data se reveste de importância por dois aspectos:o político e o pessoal.Na época, presidindo a UBES, eu e todas as lideranças, tínhamos consciência do esforço em mobilizar a juventude, naquele momento pelo impeachment de Collor, na época presidente.Segundo dados da imprensa local, a Folha de São Paulo, esta primeira passeata reuniu mais de 15 mil estudantes na Av. Paulista.A segunda manifestação no dia 25 de agosto reuniu, segundo dados da Folha 200 mil estudantes, sendo a maior concentração estudantil desde a histórica passeata dos cem mil em 1968.Neste dia, a UBES já unificada, era presidida pelo também paraense Mauro Panzera.Para ter uma idéia foram necessários cerca de 30 trios elétricos para tentar coordenar a passeata.

Diferente do que sempre quis dizer a grande mídia, não foi a Rede Globo a autora da mobilização estudantil e muito menos as mobilizações foram espontâneas.Estas foram construídas politicamente, nos debates em assembléias e salas de aula que culminaram nas históricas manifestações que tomaram o Brasil, mas que tiveram início a partir das manifestações contra os aumentos abusivos das mensalidades-1988- e depois na jornada nacional que aprovou o direito à meia-entrada em diversos estados do país-1990-, inclusive aqui no Pará tendo a frente a gloriosa UMES.

Na época, a capacidade política e a decisão das lideranças, em especial do PC do B e do MR-8 foram decisivas para construir o movimento a partir da base, iniciando um ciclo de grande renovação das lideranças do movimento.As mobilizações demonstraram o enorme potencial dos movimentos, quando têm uma bandeira coerente e um método adequado.

A grande sacada, a grande diferença é que já antevíamos a necessidade de um movimento mais leve, menos carrancudo, que pudesse incorporar parcelas mais amplas da juventude já desacostumada do embate pesado dos anos 80 contra a ditadura.Por isso nossas passeatas eram movidas a música baiana, e o hino foi-isso já como estratégia de marketing que a Globo se aproveitou para tentar se colocar como a inspiradora do movimento- a música de Caetano Sem lenço e sem documento.A pintura do rosto com batom e depois com tinta guache foi uma consequência da necessidade de criar uma forma de protestar ousada e engraçada sem deixar de ser combativa.Quem disse que a política também não pode ser alegre.
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Um comentário:

  1. Posicionamento Coerente

    Tive a alegria de participar desse momento da história, aos meus 15 anos de idade e sempre quando me lembro desse tempo busco pela memória os motivos que levaram a juventude a sair às ruas, lutando pelo impeachmet do presidente.

    Acredito que esse foi pauta de muitos debates e vc apresenta com muita propriedade alguns dessas causas.

    Gostaria de Abordar uma dessas causas que na minha opinião foi o posicionamento justo e coerente, a bandeira de luta "Fora Collor", parece pegueno, mas naguele período fez a difereça, pois existiam correntes de opinião que defendiam bandeiras como "Oposição a Collor", "Contra Collor" entre outras.

    Acredito que com uma política justa e coerente e sintonizada aos anseios do povo pode contribuir para a mobilização de amplas massas.

    Um forte abraço

    Ketno Lucas

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